segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A opressão de gênero também é um reflexo da exploração capitalista


Embora já tenhamos alcançado alguns avanços importantes em relação à inserção da mulher na política, na mídia, no mercado de trabalho, etc, não podemos nos iludir com os espaços conquistados, pois eles não existem para uma grande massa de mulheres proletárias, que ainda têm sua inserção na vida pública limitada. Tais conquistas estão longe de significar o fim da opressão, visto que ela também é fruto da exploração do sistema capitalista.

Como vemos, o homem não é o maior opressor da mulher, mas o próprio sistema ao qual estamos submetidos – mas não condenados eternamente -. A opressão de gênero está, indubitavelmente, enraizada nas sociedades capitalistas que universalmente combatemos, portanto, embora nossa tarefa não seja fácil, para começarmos a refletir sobre ela, é necessário entendermos que nossa luta é permanente, parte do esforço da construção socialista e de nossa formação marxista.

A opressão da mulher é um dos pilares fundamentais de manutenção e reprodução da exploração do sistema, por isso, um tema que deve ser pauta constante no seio dos Movimentos Sociais e jamais tido como um debate periférico ou de menor importância. Precisamos, conjuntamente, homens e mulheres, organizarmo-nos, debatermos e elaborarmos políticas para combater a opressão em todos os espaços da sociedade, sem esquecermos, contudo, que essa luta faz parte de outra muito maior, que é a superação do sistema capitalista e construção de uma sociedade socialista.

O debate da opressão enquanto reprodução da exploração capitalista, embora saibamos que ela esteve presente em outros sistemas, deve ser o alicerce de nossas discussões, a fim de que não incorramos no erro do debate antagônico: Homem x Mulher, que apenas reafirma uma visão simplória da realidade social. A nossa luta deve ser, primeiramente, contra a causa e não contra a conseqüência. “A igualdade não formal, mas sim real, da mulher, só é possível...depois da destruição do sistema capitalista e sua substituição por formas econômicas comunistas”. (Klara Zetkin e Alexandra kollontai, Terceiro Congresso da Internacional Comunista, 1921).

O exemplo de mulheres como Manuela Sáenz (Companheira de Simón Bolívar) deve ser abraçado por todos, ela largou tudo e seguiu para a fronte de batalha, combatendo bravamente na batalha de Ayacucho há 180 anos, no morro de Condorcunca, no “rincón de los muertos” (território dos mortos). Ela chegou até ali porque tinha uma consciência revolucionária e compreendia a grandiosidade de nossa luta. Não basta apenas ser consciente da sua condição de opressão e indignar-se com ela, é preciso que a mulher converta toda sua indignação em disposição de luta pela transformação da sociedade e modificação da própria história. As lutas específicas não podem ser pensadas fora das relações capitalistas que submetem Homens e Mulheres ao longo da História.

Em razão de ambos estarem submetidos ao mesmo sistema, “o problema da Mulher sempre foi um problema dos Homens” (Beauvoir, Simone) e, por conseguinte, os homens proletários, por também viverem a exploração capitalista, passam a ser peças fundamentais na construção de um movimento feminista forte e com unidade. Devemos avançar na construção de espaços comuns de discussão, pois a emancipação feminina está intrinsecamente ligada a uma emancipação convergente do Homem. Todavia, cabe as Mulheres, por serem mais diretamente objeto desse tipo de opressão, colocarem-se enquanto vanguarda na organização e formulação dessa luta, assim como no convencimento dos Homens dentro e fora desses espaços.

O Movimento Feminista precisa ampliar sua área de atuação, ganhando os bairros periféricos das cidades, as favelas e o campo. É preciso avançar dos espaços tradicionais de discussão, onde muitas vezes apenas se teoriza acerca da opressão, para aqueles onde a opressão poderá ser vista, não só no campo prático, como também na sua face mais cruel – a exclusão social. A luta contra a opressão deve ser travada internacionalmente, visto que em qualquer parte do mundo, a mulher sofre a ação nefasta desse sistema. As conquistas alcançadas em diversos países – assim como outras que se hão de alcançar -devem ser comemoradas por todos e tomadas como incentivo para a busca de um mundo possível e necessário, sem opressão.

A luta contra todas as opressões, injustiças e barbáries cotidianas é a luta contra o próprio sistema capitalista e deve fazer parte da vida de todo (a) o (a) militante que possua como horizonte estratégico um futuro socialista para a humanidade.


Fabrício Gomes – Estudante do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará e Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Bibliografia:
- Discurso do Presidente Hugo Chávez. IV Fórum Social Mundial. Porto Alegre, janeiro de 2005.
- Contribuição ao I Encontro Regional de Mulheres do Nordeste. Pernambuco, setembro de 2005.
- Klara Zetkin e Alexandra kollontai. Contribuição ao Terceiro Congresso da Internacional Comunista, 1921.
- Lacerda, Alessandra. Texto para a discussão de gênero / mulheres – Reunião Estadual da Juventude do PSOL. São Paulo, fevereiro de 2005.
- Santiago, Patrícia. Texto sobre feminismo. Rio de Janeiro, 2005.

Nota: Agradeço as companheiras revolucionárias Patrícia Santiago e Renata Duarte (UFF) por terem sido uma das principais responsáveis pelo meu avanço do nível de consciência no que concerne à discussão sobre feminismo. Embora ainda muito se tenha que avançar.

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