segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O militante revolucionário e as organizações: um olhar dialético

“A dialética, como lógica viva da ação, não pode aparecer a uma razão contemplativa...” (Sartre, Crítica da razão dialética)

Segundo Marx, “a história de todas as sociedades que têm existido até nossos dias é a história das lutas de classes...”, todavia, mesmo o militante mais empenhado na luta pela transformação da sociedade se confunde, com freqüência, pela falta de uma organização, pois a ausência dela diminui-lhe as possibilidades de fazer história de modo consciente.

O militante isolado, normalmente, não pode fazer história: suas forças são muito limitadas. Em razão disso, o problema da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário; pois é a partir dela que ele passa a intervir de forma coletiva e organizada na sociedade, a disputá-la politicamente e a apontar caminhos para se chegar a um horizonte estratégico socialista para humanidade.

Não estamos afirmando, porém, que a revolução seja propriedade das organizações, tampouco que os militantes desorganizados não sejam revolucionários, mas apenas reafirmando a necessidade de uma ferramenta política que nos auxilie na tomada do poder pela via revolucionária. É importante destacarmos que nesses últimos anos, temos assistido insurreições e revoluções em diversos países da América Latina, que depuseram presidentes e questionaram o sistema político ou regimes impostos pelos modelos neoliberais. A Revolução Bolivariana, iniciada em 1989, por exemplo, é prova viva de que os processos revolucionários, inicialmente, independem da existência de organizações revolucionárias, todavia, o não avanço desses processos para uma sociedade socialista, demonstra a falta que elas nos fazem.

Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, etc, foram grandes revolucionários que se somaram a organizações, mas não formados a partir delas. Eles sempre mantiveram um olhar dialético sobre suas organizações a fim de que não tivessem sua ação revolucionária contida por deformações da ferramenta. Este é um problema ao qual um militante jamais pode fechar os olhos. Ele deve cuidar para que a organização não se torne opaca para ele, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Caso contrário, ele ficará impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sentirá alienado na atividade coletiva. A organização deixa de ser o lugar onde suas forças se multiplicam e passa a ser um lugar onde elas são neutralizadas ou instrumentalizadas por outras forças, orientadas em função de outros objetivos.

A falta de uma visão dialética da realidade, muito bem trabalhada por Marx e Engels, mas ignorada pelo antidialético Stálin, tem influenciado de forma negativa na vida de muitos militantes, que acabam incorrendo no erro de transformarem as organizações em que militam numa espécie de ídolo sagrado, que não pode ser submetido a críticas profundas e que deve merecer todos os sacrifícios. Essa atitude, alienada, causa graves prejuízos tanto ao militante como à organização: os revolucionários que idolatram – ou fazem apologia – a organização em que atuam deixam de contribuir para que ela se renove e acabam facilitando o agravamento de suas deformações. Na medida em que ele não aprofunda suficientemente nem o espírito crítico nem a luta permanente pela democratização de todas as relações dentro da organização, ele mostra ser um mau revolucionário.

Quaisquer que sejam os caminhos que venham a ser trilhados pelo militante revolucionário, ele precisará se empenhar em elevar seu nível da consciência crítica, para poder participar mais efetiva e conscientemente do movimento de transformação da sociedade; e para isso precisará assimilar melhor e aprofundar o pensamento dialético, mediando as diversas realidades impostas a ele pela luta de classes.

Fabrício Gomes – Estudante do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará e Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Bibliografia:

- O que é dialética: Coleção primeiros passos. Leandro Konder. Editora Brasiliense S.A.. São Paulo, 1981.
- Revista Movimento Nº 2 – janeiro / fevereiro de 2005.

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